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Você tem bala no bolso ou tem bala na agulha?

Você tem bala no bolso ou tem bala na agulha?

Certa vez fui a um supermercado e, como é de meu costume, cumprimento a todos e pergunto seus nomes. Afinal, acho que por trás de um nome sempre há uma grande história. Desta vez não foi diferente: Havia um repositor de mercadorias abaixado arrumando uma prateleira de vinhos.

O cumprimentei, e assim começou uma amizade de aprendizado.

— Olá amigo.

—Olá senhor, posso ajudar?

 Então respondi:

—Sim, como é seu nome?

De maneira muito expansiva, me respondeu:

— Paulo.

Então me apresentei:

—Oi, Paulo, eu sou Jorge Penillo, tudo bem?

-Tudo bem, Senhor Jorge.

Então, continuei:

— Paulo, será que poderia me passar uma dessas garrafas de vinho que está repondo, por gentileza?

—Claro, aqui está.

Quando agradeci e me preparava para ir embora, ele me surpreendeu e me ofereceu uma bala.

Olhei para Paulo com olhar de surpresa, aceitei a bala e fui embora.

Uns quinze dias depois, voltei ao mercado. E lá estava Paulo, repondo vinhos.

O cumprimentei e ele se surpreendeu por eu lembrar-me de seu nome, porém antes de ir embora, me ofereceu outra bala. Desta vez aceitei, mas comecei a reparar em seu comportamento, para todas as pessoas que davam atenção a ele, ao final ele oferecia uma bala.

Na terceira vez que o encontrei, peguei os produtos que precisava, o cumprimentei e já fiquei aguardando sua reação, e não deu outra, ofereceu uma bala.

Então perguntei curioso.

—Você oferece balas para todos os clientes da loja?

—Não, apenas para as pessoas que querem comprar balas.

—Mas você não cobra, oferece de graça.

—Seu Jorge, elas me pagam de outra forma.

Então perguntei:

—Qual sua profissão? Ajudante ou repositor?

Ele respondeu:

 —Vendedor de balas e repositor.

—Vendedor de balas? Como assim? Vejo que você distribui as balas de graça e fica aqui como repositor.

—Seu Jorge, eu consegui esse emprego por intermédio da gerente do supermercado, que me viu vendendo balas no trem. Quando chegou à estação que ela iria descer, me chamou de canto e me disse que o supermercado estava admitindo e caso me interessasse ela poderia me contratar como repositor. Hoje estou aqui, vendedor de balas e repositor.

Por várias vezes voltei ao supermercado e o vi repondo vinhos e ajudando as pessoas a decidirem a compra, mas, certo dia, ao passar pelo corredor de vinhos, não o encontrei. Então perguntei para uma moça que estava em seu lugar.

—O Paulo, repositor, está em férias?

A moça respondeu:

— Não, ele foi transferido para o depósito no fundo da loja.

Pedi para ela chamá-lo, e, durante nossa conversa, ele me disse que a gerente que o contratou havia sido transferida para outra unidade, e o novo gerente o colocou no fundo da loja, na área da limpeza.

Então perguntei:

—E você não argumentou pedindo para continuar aqui?

—Argumentei sim, Seu Jorge, pois gosto do que faço, mas ele me ameaçou de demissão caso eu não aceitasse.  Fique tranquilo, seu Jorge, se eu for demitido voltarei a vender balas.

Então, procurei o gerente para entender melhor suas decisões, e, para minha surpresa, ele me disse que para trabalhar na área de vinhos era preciso ter bala na agulha, não era lugar para qualquer um.

O termo que ele usou me incomodou bastante, afinal certas palavras vêm recheadas de significados preconceituosos. Bala na agulha, ao pé da letra, diz respeito à arma de fogo que está com o projetil preparado para ser disparado. Em sentido figurado, quer dizer que alguém tem mais poder ou importância que outro.

Resolvi, então, mandar um e-mail para a direção da rede de supermercados, contando a história de Paulo.

Fui surpreendido dois meses depois quando voltei ao supermercado e encontrei Paulo na área de atendimento ao cliente.

Quando fui procurar o gerente para parabenizá-lo pela sábia decisão, mais uma vez fui pego de surpresa. A gerente anterior havia sido promovida à diretora de rede e decidiu treinar e transferir o gerente para outra unidade.

A loja adotou a ideia de Paulo, e na área de atendimento ao cliente há um grande pote de balas.

Certas atitudes podem matar ou dar sabor a vida dos clientes.

E você: tem bala no bolso ou bala na agulha?

 

Um abraço.

Autor: Jorge Penillo

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